segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

O QUE É UMA DISCUSSÃO EM TCC? E RESULTADO?



O resultado em um TCC é mostrar o que foi conseguido com a coleta de dados, ou seja, os conceitos dos autores escolhidos para a pesquisa.

Após a coleta de dados e a constatação de resultados, o elaborador do TCC os analisa, levanta hipóteses e compara os pontos de vista dos conceitos mencionados no trabalho, os quais podem ser semelhantes, complementares ou mesmo divergentes.
Ao fazer essa comparação entre esses conceitos oriundos de diversos autores, tem-se uma “conversa” entre esses autores, ou seja, uma discussão.





domingo, 17 de novembro de 2019

LIBRAS: LÍNGUA OU LINGUAGEM?

Língua: sistema de representação constituído por palavras e por regras que as combinam em frases que os indivíduos de uma comunidade linguística usam como principal meio de comunicação e de expressão, falado ou escrito.
Linguagem: qualquer meio sistemático de comunicar ideias ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos, gestuais e outros.
Houaiss, 2009.

Língua: conjunto dos elementos que constituem a linguagem falada ou escrita peculiar a uma coletividade; idioma.
Linguagem: é um processo comunicativo pelo qual as pessoas interagem entre si. Existem vários tipos de linguagem: a fala, o gesto, o desenho, a pintura, a música, a dança, o código de trânsito.
Professora Camilla (Salesiano Dom Bosco)

Então, de acordo com as definições acima, Libras é a língua de sinais usada pela comunidade de surdos no Brasil e já foi reconhecida pela lei, ou seja, é uma língua oficial, tal como nossa língua falada, o português.

A lei que dispõe sobre a língua de sinais é a Lei nº 10.436, de 2002. (http://www.libras.com.br/o-que-e-libras)





segunda-feira, 4 de novembro de 2019

TERESA

TERESA

                                                                                  Marta Padoveze

(Paráfrase* do poema Teresa, de Manuel Bandeira)


         Aos olhos de Teresa, eu sou nada. Mas como posso culpá-la se eu mesmo já a desdenhara por duas vezes?
         Agora, lembro-me tão claramente do primeiro dia em que a vi: tão esquisita, tão cara de perna!
         - Bom dia, moço! Quero descontar este cheque. 
         E o sorriso era seu cartão de visitas.  
        Mas eu só via em Teresa sua cara-perna. Até que Teresa era bem jeitosinha, mas aquela minissaia mostrando suas pernas estúpidas me incomodavam, sem aparente motivo.
         Na segunda vez que a vi, suas pernas já não me pareciam tão estúpidas assim. Talvez, porque, naquela ocasião ela estivesse usando uma saia mais longa, mas os olhos! Eram mais velhos que ela! Seriam olhos de sabedoria já alcançada? Ou seriam olhos já muito sofridos, mais sofridos que o corpo?
        - Bom dia, moço! Quero descontar este cheque, disse Teresa, repetindo para mim seu cartão de visitas.
         Na terceira vez que a vi, nada mais havia ao redor: só Teresa em suas pernas inteligentes, com seu rosto-anjo.
       - Bom dia, moço! Quero descontar este cheque.
       Porém, o seu cartão de visitas era dirigido ao outro caixa, e ele, por sua vez, os olhos maduros da moça fixava.
       Eu a amava, e ela nem percebia. Eu só via Teresa, que não era pernas, olhos, cara: era tão somente Teresa, meu amor.
       Eu teria depositado minha vida em Teresa, mas ela nem sacou o meu amor.



Teresa - Manuel Bandeira

A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna

Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)

Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.



*Paráfrase: interpretação, explicação ou nova apresentação de um texto (entrecho, obra) que visa torná-lo mais inteligível ou que sugere novo enfoque para o seu sentido (HOUAISS, 2009).



sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Cláudio Manoel da Costa


CLÁUDIO MANUEL DA COSTA

A revolução industrial alterou a sociedade do século XVIII, provocando êxodo rural, poluição ambiental, aumento da poluição sonora e crescimento desordenado das cidades com consequências nocivas para muitos. Os poetas, refletindo essas preocupações, voltaram seus temas à natureza, à sua exaltação; o elogio à vida no campo.
“Se observarmos a história da cultura, veremos que cada momento é uma oposição ao anterior. O homem parece estar sempre insatisfeito com a direção de seu próprio tempo e, por isso, rompe com o presente, propondo algo novo. Porém, ao analisarmos o novo, notamos que muitos elementos, ainda mais antigos que os abandonados, voltam à tona. É o velho que, misturado a certas tendências, torna-se novidade.” (CEREJA, MAGALHÃES, 1994. Pg. 233).
            Assim, poetas como Cláudio Manuel da Costa reinventam os clássicos e surge um novo estilo literário.
Arcádia é região da Grécia onde pastores e poetas chefiados pelo deus Pã - deus dos bosques e dos pastos, protetor dos pastores - dedicavam-se à poesia e ao pastoreio, vivendo em harmonia perfeita com a natureza e isso simbolizava o ideal de vida, por isso o nome do estilo predominante da literatura da época ser chamado de Arcadismo, também designado como Neoclassicismo, por derivar-se do fato de os escritores da época imitarem os clássicos, ao seguirem e aceitarem determinadas convenções clássicas.
Antonio Cândido (1997) explica esse estilo:
“A poesia pastoral, como tema, talvez esteja vinculada ao desenvolvimento da cultura urbana, que, opondo as linhas artificiais da cidade à paisagem natural, transforma o campo num bem perdido, que encarna facilmente os sentimentos de frustração. Os desajustamentos da convivência social se explicam pela perda da vida anterior, e o campo surge como cenário de uma perdida euforia. A sua evocação equilibra idealmente angústia de viver, associada à vida presente, dando acesso aos mitos retrospectivos da idade de ouro.” (CANDIDO, 1997).
            A poesia árcade de Cláudio Manuel da Costa, escolhida para representar o estilo literário de seu tempo, exibe elementos bucólicos e expressa alguns sentimentos universais: dor na alma, tristeza, melancolia, esprezo pelas coisas materiais quando o amor não é correspondido, frustração. 

ALTÉIA - ROMANCE III

  1. Aquele pastor amante,
  2. Que nas úmidas ribeiras
  3. Deste cristalino rio
  4. Guiava as brancas ovelhas;

  1. Aquele, que muitas vezes
  2. Afinando a doce avena,
  3. Parou as ligeiras águas,
  4. Moveu as bárbaras penhas;

  1. Sobre uma rocha sentado
  2. Caladamente se queixa:
  3. Que para formar as vozes,
  4. Teme, que o ar as perceba.

  1. Os olhos levanta, e busca
  2. Desde o tosco assento aquela
  3. Distância, aonde, discorro,
  4. Que tem a origem da pena:

  1. E depois que esmorecidos
  2. Da dor os olhos, na imensa
  3. Explicação do tormento,
  4. Sufocada a luz, se cegam;

  1. Só às lágrimas recorre,
  2. Deixando-se ouvir apenas
  3. Daquelas árvores mudas,
  4. Daquela mimosa relva.

  1. Com torpe aborrecimento
  2. A companhia despreza
  3. Dos pastores, e das ninfas;
  4. Nada quer; tudo o molesta.

  1. Erguido sobre o penhasco
  2. Já vê, se é grande a eminência:
  3. Por que busque o fim da vida,
  4. Na violência de uma queda.

  1. Já louco se precipita;
  2. E já se suspende: a mesma
  3. Apetência do tormento
  4. Maior tormento lhe ordena.

  1. Pastores, vede a Daliso;
  2. Vede o estado qual seja
  3. De um pastor, que em outro tempo
  4. Glória destes montes era:

  1. Vede, como sem cuidado
  2. Pastar pelos montes deixa
  3. As ovelhas of'recidas
  4. Às iras de qualquer fera.

  1. Vede, como desta rama,
  2. Que fúnebre está, suspensa
  3. Deixou a lira, que há pouco,
  4. Pulsava pela floresta.

  1. Vede, como já não gosta
  2. Da barra, dança e carreira;
  3. E ao pastoril exercício
  4. De todo já se rebela.
  5. Segundo o vulto, que neste
  6. Rústico penedo ostenta,
  7. Cuido, que o fizeram louco
  8. Desprezos da bela Alteia.


Muitos poetas ligados ao arcadismo adotaram pseudônimos de pastores gregos ou latinos, pois o ideal de vida válido era o de uma vida bucólica. Diferentemente do Barroco, é com frases de ordem direta que o autor escreve seus versos, usando um vocabulário simples (pelo menos para a época) e há uma quase ausência de figuras de linguagem.
            Podemos observar que as palavras das segundas e quartas estrofes de todos os versos terminam com os vogais “e” e “a” – embora em algumas palavras dos segundos versos haja o acréscimo da letra “i”, que por ser classificada como uma semi-vogal quando, ao lado das letras “a”, “e” e “o”, talvez não deva ser levada em consideração. Percebe-se, assim, a preocupação do autor com a sonoridade e seu cuidado na escolha das palavras.
A natureza está presente em seus versos - úmidas ribeiras, rios, águas, penhas, luz, árvores, relva – e o pastor dialoga com essa natureza e transforma o vento em um ser capaz de ouvi-lo.
(...) teme, que o ar as perceba (as vozes) (...). (verso 12).
Nos versos de 9 a 12, o autor, cansado de amar e não ser correspondido, lamenta sua sorte e quer desabafar, mas não deseja que ninguém o ouça. O poeta busca a perfeição do ser, pois só um ser perfeito aceita a dor sem que ela seja transparecida:
“(...) Sobre uma rocha sentado
Caladamente se queixa:
Que para formar as vozes,
Teme, que o ar as perceba. (...)
“O belo é verdadeiro e o verdadeiro é natural”, portanto, tudo que é natural é belo: é essa a visão do homem literato da época. A natureza é recorrente e seu trabalho (o do ser perfeito) deve ser relacionado à natureza. Sendo assim, o pastor é o escolhido para representar a volta às origens, pois o seu contato com o natural é diário. É da natureza que tira o seu sustento:
“Aquele pastor amante (...) - (verso 1)
(...) guiava as ovelhas brancas (...)” (verso 4).
            Nota-se também que havia um grande prazer em estar junto ao campo:
            .” (...) Aquele que muitas vezes
            Afinando a doce avena (...) (versos 5 e 6)
            (...) deixou a lira que há pouco
            Pulsava pela floresta (...)” (versos 47 e 48).
Contudo, esse prazer se acaba ao sentir-se desprezado por sua amada Alteia.  Em detrimento das ovelhas, seu trabalho é esquecido e abandonado:
“(...) Vede, como sem cuidado
Pastar pelos montes deixa
As ovelhas of'recidas
Às iras de qualquer fera. (versos 41 a 44)
(...) Vede, como já não gosta
Da barra, dança e carreira;
E ao pastoril exercício
De todo já se rebela. (...)”. (versos 49 a 52).
O cenário bucólico da paisagem mineira, por meio de alusões à natureza áspera – rochas, penhascos, penhas, penedo - é testemunha impassível de seus lamentos e desenganos. Seu sofrimento é tal que busca a última saída possível:
(...) Erguido sobre o penhasco
Já vê, se é grande a eminência:
Por que busque o fim da vida,
Na violência de uma queda. (...) (versos 29 a 32).
O poeta árcade aqui em seu poema já não tem mais o desejo de aproveitar o dia e a vida enquanto possível – carpe diem – como lhe acontecia antes de sofrer os desprezos “que o fizeram louco”.
            É possível fazer um paralelo da obra escolhida de Cláudio Manuel da Costa com a música de Adriana Calcanhoto:

Cantada (Depois de Ter Você)  - Adriana Calcanhotto (Álbum Cantada, 2002)
“Depois de ter você
Pra que querer saber
Que horas são?

Se é noite ou faz calor
Se estamos no verão
Se o sol virá ou não
Ou pra que é que serve
Uma canção como esta?

Depois de ter você
Poetas para que? (...)

A autora define que a poesia, embora lhe seja importante, é nada quando acontece a perda da pessoa amada, a natureza não é mais essencial, e nem mesmo a canção que compõe é válida em face de tal privação. É possível perceber também em seus versos a desconsideração pela vida.
O contéudo bucólico e a idealização amorosa são os componentes dessa obra que retratam a mulher do Arcadismo como distante,  incorpórea, um ser superior, inalcansável e imaterial. Calcanhoto (2002), não esclarece se o ser amado é homem ou mulher, mas o vê do mesmo modo como os poetas árcades: inatingível.
É possível afirmar que “de todos os poetas “mineiros”, talvez seja ele (Cláudio Manuel da Costa) o mais profundamente preso às emoções e valores da terra” (Cândido, 1997). Basta apenas perscrutar seus poemas e veremos as características árcades que tão bem soube usar para compor poemas de grande valor literário.

Glossário:
Avena= antiga flauta pastoril.
Penha = penhasco, rocha.


Referências bibliográficas:
CÂNDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. 1º. Volume.  Editora Itatiaia Limitada, Belo Horizonte – Rio de Janeiro, 1997.

CEREJA, William Roberto e MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: Linguagens. Atual Editora, São Paulo, 1994.

CALCANHOTTO, Adriana. Cantada, 2002. Disponível em https://som13.com.br/adriana-calcanhotto/albums/cantada